Após derrota para o Fortaleza em casa, Paulo Sousa ver clima ficar pesado no Flamengo, e o português pode ser demitido a qualquer momento.
O combo de atuações ruins mesmo nas vitórias, mudanças constantes na equipe e decisões controversas em episódios como o que tem Diego Alves no centro das atenções teve na derrota para o Fortaleza um amplificador nas cobranças por troca de comando. As ofensas dos 63 mil presentes no Maracanã encontram eco na diretoria e o treinador português vive seu momento mais delicado nos quase cinco meses de clube.
A decisão passa muito pela postura centralizadora de Rodolfo Landim, que também foi bastante hostilizado no Maracanã. A paciência do mandatário e de pares, como Marcos Braz, já não é mais tão grande, e Paulo Sousa viaja terça-feira para os jogos contra Bragantino e Inter pela primeira vez realmente ameaçado.
Vencer fora de casa é determinante para dar sobrevida como nas últimas quatro vitórias, mas convencer e dar perspectivas para a sequência no Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores é o único caminho para deixá-lo tranquilo no cargo. Na diretoria, há correntes que já não acreditam nesta possibilidade e escancaram a preocupação com um Flamengo que fez dos altos e baixos uma rotina em 2022.
Com contrato até dezembro de 2023, Paulo Sousa tem multa proporcional somente até o fim do primeiro ano. O valor é referente ao número de salários pendentes até o término de 2022. Ou seja, reduz mês a mês e no momento gira em torno de R$ 7.7 milhões.
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O montante não é encarado como problema no Ninho do Urubu. A reposição, por outro lado, é um dos fatores que estica a corda da paciência com Paulo Sousa. Cuca é o nome mais óbvio e já não encontra mais tanta resistência nos bastidores como em outros momentos, apesar de estar longe de ser consenso.
Um ponto que já entrou em pauta também é falta de estrutura para transição no departamento de futebol. Sem auxiliar técnico fixo, com a demissão de Maurício Souza e a saída de Fábio Matias, o Flamengo sequer tem quem assuma a equipe temporariamente, o que torna o debate por alternativas ainda mais definitivo – o técnico do Sub-20 é o recém-promovido do Sub-17 Mario Jorge.
Sabe-se com muita clareza que, apesar da pressão, Paulo Sousa não cogita e não irá pedir para sair. O próprio treinador foi enfático durante entrevista coletiva:
– Sei a importância de termos coragem de não agradar em alguns momentos. Como sei que Deus nunca nos deu espírito de covardia. É nos momentos difíceis que temos que ser mais convictos e certos.
Como dito no início da reportagem, a discussão sobre o futuro do treinador vai além das atuações ruins – por mais que o sufoco no clássico contra o Fluminense já tenha incendiado debates entre dirigentes ao longo da semana e a derrota com domínio do Fortaleza em boa parte da partida pela nona rodada tornou o tema ainda mais aquecido.
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O episódio envolvendo Diego Alves tem gerado insatisfação crescente não somente entre jogadores, mas também dirigentes. Não são poucos os que entendem que Paulo Sousa “não se ajuda” e revive o conflito com o goleiro em momentos vistos como contornáveis. Foi o que aconteceu no domingo.
A percepção coletiva é de que mais uma vez houve falta de habilidade na condução. Diego Alves voltou a ser relacionado após quase um mês, concentrou na noite de sábado, chegou a ir a campo para o aquecimento, e só foi informado do corte do banco de reservas quando todo o Maracanã já estava ciente.
Explica-se: a escalação é divulgada pelo clube nas redes sociais uma hora antes da partida, quando os jogadores já estão fardados. Dos 24 relacionados, apenas Diego Alves ficou fora do banco e acabou informado ao descer para o vestiário, quando já se preparava para vestir a camisa de jogo. Engoliu a insatisfação, tomou banho e seguiu para o camarote quando a bola já estava para rolar.
O episódio fez com que os bastidores rubro-negros revivessem momentos de constrangimento que acabaram em explicações em coletiva no fim de maio. A entrevista de domingo, por sinal, foi outro fator que causou insatisfação internamente, quando jogadores se sentiram expostos ao Paulo Sousa condicionar a derrota aos “erros técnicos individuais”.
Com duas partidas fora de casa pela frente, Paulo Sousa segue refém de resultados – nada muito diferente do que tem ditado sua sobrevida nos últimos meses. Dessa vez, no entanto, as correntes dispostas a defender a permanência perdem força e vontade. Vejamos os próximos capítulos.